quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

MUITOS CARNAVAIS

BLOCO DA MACACA DE ZÉ BADALO - ARQUIVO GETÚLIO TEIXEIRA - BAÚ DE MACAU  

Ouso dizer que a Nação macauense traz em si geneticamente a marca cultural de muitos carnavais. Macau, cidade-porto, aprendeu desde cedo a magia e, como diria Dorotéa, a ‘patifaria’ do entrudo trazido pelos colonizadores vindos lá de Portugal. Assim não podemos dizer que a festa momesca tem pai nem mãe na Terra do Sal. A alma carnavalesca é genuinamente popular e de longas datas todos sabem que macauense não pode ouvir um pau e lata tocando que corre atrás. Assim sempre foi e será.
 Nossos antepassados curtiam muito o carnaval e se empenhavam na preservação de agremiações carnavalescas que fizeram história e se eternizaram na memória e literatura nativas. Os Tenentes, Lenhadores, Remadores, Sabiá, Passo da Ema, Bloco da Macaca, entre tantos, encantaram muitas gerações e contribuíram para impregnar em nossa cultura o típico prazer de brincar o carnaval.


A nossa geração, meninos e meninas nascidos entre os anos 50 e 60, ainda conheceu remanescentes do carnaval mais antigo. Alcançamos, por exemplo, o corso na Praça da Conceição com desfiles de blocos e a lança-perfume de boa qualidade circulando livremente nas calejadas e enriquecidas mãos dos homens do cais. Os blocos Sabiá e Remadores em suas últimas aparições. O Bloco da Ema com Seu Virgílio Dantas tocando saxofone nas ruas da cidade. Troças. Papangus. O Bloco da Vitória, com a força de Dona Colô. A Tribo de Índios de Seu Manoel das Quatro Bocas, a Tribo de Inácio, Cangaceiros. As Batalhas carnavalescas. A sadia rivalidade entre as Escolas Azes do Ritmo e Imperadores do Samba. Os bailes no Bar Rochedo...


Crescemos gostando de carnaval e quando ‘adolescemos’, cabe registrar, soubemos manter a tradição criando novos grupos e agremiações que também enriqueceram a história momesca em terra salineira. Da nossa mais pura tradição surgiram, por exemplo, Os Sombras, Brasinhas, As Almas, Enxutas, Metralhas, Demônios, Pakeras, Jardim, Mutantes, Equipicão, Futuristas, Bruxos, Balancê, O Sono, A cobra, O Boi, O Mela-Mela. Nossos talentosos artistas Zezinho do Bandolim, Paulinho de Macau, Chiquito, Menezes, Ranilson, Tonico, Mirréis, Netinho de Colô, Madruga, Edinho Queiroz, Raimundo Silvestre, Marquinhos, Carlinhos de Aprígio, Leão Neto, Dino França, Porrete, Laércio, Tião, entre tantos, marcaram época. 


AS ALMAS, bloco carnavalesco que revolucionou 
os conceitos estabelecidos desfilando nos anos de 1970,1971,1972,1973.
Entre as fundadoras, Gracinha Oliveira, Vilma Pinheiro e Vilma Rejane. 


Bloco Equipicão, fundado no início dos anos 70 por Zé Antonio Menezes, Haroldo Martins, Albimar Mello, Fernando Albuquerque e Wellignton Baiá. Destacava-se por suas belas fantasias e alegorias. Em 1974 foi impedido de desfilar na avenida do carnaval porque alguns componentes usavam uma faixa com o nome 'picão'.


Bloco Os Futuristas
 





Bloco Jardim em plena avenida, Paulo de Hermes e Tidinho


E assim preservamos nossa cultura num tempo em que a cidade era imensa para abrigar nossos sonhos de provincianos pierrôs e colombinas brincando de felicidade nos quatro dias de folia nos bailes do Lions Clube, Unidos, Guabiru...








... e para quem assim cresceu curtindo as quatro festas do ano: Carnaval, São João, Festa da Padroeira e Natal, cada qual com a sua própria característica, é natural que seja difícil gostar da forrolização que toma conta da folia momesca. Não sei como é possível não gostar do frevo e das antigas marchinhas carnavalescas que alegravam, e ainda alegram, nossa festa maior. 









No entanto, que posso fazer se o ‘novo tempo’ impõe, os governantes se rendem e o nosso povo passivamente aceita a lucrativa comercialização do NOSSO carnaval na vulgarização de gestos e ritmos que nem animados são?

 Resta-me assumir a modernidade do meu jeito. Vou baixando da internet as velhas e melhores canções enquanto visito antigas fotografias buscando no baú das lembranças o tempo em que o coração se alegrava quando Wellington Coutinho espalhava as desbotadas máscaras carnavalescas nas grossas paredes do Bar Boa Sorte anunciando a chegada de Momo. Confetes e serpentinas completavam a decoração. Na velha radiola, dia e noite, os frevos de Claudionor Germano embalavam as nossas mais puras alegrias.

Bar Boa Sorte de Augusto Coutinho

Jorge Barros comandando o Bar Boa Sorte

Expedito, um autêntico folião macauense



Caetano (que só bebia em pé) e Benito Barros (que
adquiriu hábito semelhante) clicados pela minha
pentax num ensolarado domingo de carnaval na
esquina da Praça da Conceição.


Que Macau nunca perca seu destino carnavalesco e que se possível, honrando nossas melhores tradições, guarde um pouco que seja dos antigos carnavais para a felicidade daqueles que respeitam os que gostam, mas não estão dispostos a fazer o enfica nem a dançar kuduro banhados de ovo e mel. A todos desejo um feliz carnaval na Ilha de Sal.


Um comentário:

Anônimo disse...

Mostrar que o carnaval é parte da cultura da cidade e que vai além de "enfinca" é um belo trabalho... parabéns, Regina. Sempre.