essa porção de terra recôndita sempre em um roçar lúbrico com a brisa salgada. Esse lugar com sua geografia singular talvez seja o que explique a atração fatal que sinto por ela. Esse isolamento natural sempre me fascinou. Saudades das leituras solitárias de fim de tarde na antiga ponte de madeira da ilha de Santana, nos bancos da solitária praça Monsenhor Honório. Saudades da minha interlocutora-mor que dividia comigo os segredos inconfessáveis da adolescência, sempre com seu olhar cúmplice a fitar-me do altar-mor da matriz, a Virgem da Conceição. Saudades da catequese de Dona
Rosarinho nas tardes de sábado... Mas, quis o destino que há 17 anos eu deixasse a ilha. Quis também o destino que as perdas familiares fizessem com que os poucos parentes que lá residiam também a deixassem. Mas é impossível esquecer Macau. Uma das emoções mais fortes que senti foi chegar a essa cidade e perceber que meu antigo lar já não mais existia, que não havia mais parentes meus ali. Confesso que chorei. Ainda estou a me acostumar com a ideia. Entendo perfeitamente o sentimento revelado pelo meu saudoso professor Benito quando entrevistado por Marize Castro, ao afirmar que não conseguia afastar-se muito tempo de Macau devido à tristeza que invadia a sua alma. Penso que há algo de inexplicável na combinação daquela brisa, daquele cheiro, daquele mar... Só quem já sentiu pode sentir, mas não explicar o que significam. Entendo os seus sentimentos por Macau, Regina.
* colaboração do professor Ailton Dantas de Lima
3 comentários:
Lindo, saudoso, poético... Não tem como formular uma frase coerente quando se lê algo assim, pois se lê com o coração e se sente, forte...
A distancia causa uma tremenda saudade, porém fortalece a certeza da volta.
a Roberto Pinheiro
Concordo plenamente com Daniel. Lindo texto.
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