quinta-feira, 27 de outubro de 2011

MARINHEIRO SÓ

um BRADO RETUMBANTE

Eu não estava preparada para a emoção que invadiu a noite de ontem no Campus da UFRN. Admiradora que sou do historiador e notável ser humano, Cláudio Guerra, cheguei bem cedo no auditório do DCE pensando que iria simplesmente dar um abraço e pegar o autógrafo do autor durante o lançamento do seu belíssimo e tocante romance MARINHEIRO SÓ. 

Armada com meu equipamento fotográfico imaginei que iria apenas homenagear o meu amigo fazendo alguns vídeos e fotos para registrar o momento, mas que nada! Acabei testemunhando e registrando um emocionante momento histórico. A heroína do livro de Cláudio, Dona Geni, vítima da ditadura militar, cuja história é lindamente contada em forma de romance por Cláudio, estava presente acompanhada por amigos e familiares. Diante de todos ela contou o drama vivenciado pela sua família quando o seu marido, o cabo da Marinha José Manoel da Silva foi assassinado pelo regime em 1973, em Pernambuco. Destemida, ela soltou aos quatro ventos o seu grito de protesto pelas atrocidades praticadas nos anos de escuridão contra milhares de brasileiros e brasileiras. Detalhes sórdidos, cruéis. Foi tocante. Perturbador.

As lágrimas de Dona Geni inundaram as almas e os corações dos que estavam na sala. O seu gemido se tornou imenso... um brado retumbante! Muitos também choraram naquele instante. E o universo sentiu aquela dor. Nos momentos finais do evento, Amparo Araújo (outra sobrevivente da ditadura), uma das fundadoras do Movimento Tortura Nunca Mais de Pernambuco, que estava na mesa, recebe um telefonema de Brasília e transmite o que ouviu. Naquela hora, em votação simbólica, por unanimidade, o Plenário do Senado acabara de aprovar o Projeto de Lei da Câmara que cria a Comissão Nacional da Verdade. A comissão deverá examinar e esclarecer as graves violações de direitos humanos praticadas no período de 1946 até a data da promulgação da Constituição de 1988, com o objetivo de "garantir o direito à memória e à verdade histórica e promover a reconciliação nacional". A matéria vai à sanção presidencial. 

As lágrimas outra vez voltaram ao rosto de Dona Geni. Todos aplaudiam de pé, emocionados. 

Parabéns, Cláudio Guerra. Parabéns Dona Geni. Parabéns Amparo. Parabéns Roberto Monte. O povo brasileiro tem todo o direito de conhecer a verdade.


A NOITE DE GENI E CLÁUDIO GUERRA 



Geni conta a sua história e diz que Cláudio foi fiel aos fatos







José Manoel foi assassinado no episódio conhecido como o massacre da Chácara São Bento, em janeiro de 1973 em Pernambuco. A família foi perseguida e teve negado o direito aos restos mortais da vítima.

Geni lutou buscou ajuda, encontrou amigos e lutou bravamente até resgatar os restos mortais de Manoel.







Cláudio Guerra escreveu um romance para contar
a luta de Geni para recuperar os restos mortais
do marido.
a filha de geni e manoel se emociona ao relatar
o drama familiar, a discriminação na escola, o
sofrimento da mãe, a ausência do pai.
marinheiro só foi distribuido gratuitamente
Amparo participou da luta de Geni
Rizolete Fernandes compareceu...


MARINHEIRO SÓ, VAI SER APRESENTADO EM MACAU
NO DIA 03 DE NOVEMBRO
pela iniciativa do projeto É SÓ PRÁ DAR UM TOQUE, de João Eudes



2 comentários:

Unknown disse...

Regina,
Uma maravilha retumbante! As vítimas da ditadura Militar devem mostrar sua dor para as gerações futuras evitem essa praga no País. Parabéns pelo Texto. Aproveite também para levar meus sinceros parabéns para Cláudio Guerra, uma admiração que chegou com a minha descoberta dos encantos da Ilha.
Abraços,
Alex

Anônimo disse...

Estimada Regina,
Quero mandar, a traves de você, um grande abraço para essa verdadeira guerreira que é a Sra Genivalda. Tenho um historia emocionante em referencia a ela. Na Secretaria de Segurança do Recife, quando quisseram que eu a reconhecesse como sendo a mulher do José Manoel e eu neguei, na frente dela.
Agradeço le dar esse abraço.
Sou Jorge Barrett, irmao de Soledad Barrett e tambem sobrevivente da chacina de Sao bento.