sexta-feira, 19 de setembro de 2014

CIDADE

CIGANOS: contando com a própria SORTE

Fugindo da seca, grupo cigano escolheu Macau para viver pacificamente
Em meados dos anos noventa, fugindo da seca e das rixas de família, um bando de ciganos trocou a vida nômade dos acampamentos por moradia fixa em Macau. Chegaram numa carroça trazendo pouca bagagem dispostos a começar vida nova e pacífica. Inicialmente, ariscos e desconfiados, despertaram certa inquietação na população, mas logo se integraram à vida da comunidade e se distanciaram das tradições ciganas. Duas décadas depois, a família cresceu e se multiplicou, mudou os hábitos, conquistou casa própria, mas reclama da discriminação, da falta de apoio e de políticas públicas para sua gente.


Ao longo dos anos o grupo de dez famílias sobrevive com grandes dificuldades, enfrentando preconceito, doenças e desemprego. Alguns ciganos mais velhos recebem aposentadorias rurais e os mais jovens fazem biscates, vendem relógios, rádios e outros artigos importados para manterem as famílias. Nas feiras, poucas ciganas ainda oferecem a previsão do futuro através da velha leitura de mão.  No ano 2000, na administração do ex-prefeito José Antonio Menezes, eles ganharam uma casa própria doada pelo governo municipal. Desde então, o Conjunto Arnóbio Abreu, localizado no Porto São Pedro, ficou esquecido pelo poder público.

No ‘bairro dos ciganos,’ onde o vento faz a curva nas proximidades da antiga estação ferroviária, o saneamento básico ainda não chegou e os animais circulam livremente pelas ruas sem pavimentação. As casas ficaram pequenas para abrigar o grupo que se multiplicou. Sebastião Dantas, 54 anos, já foi o líder do bando, mas anda cansado e doente. Sem rodeios,
ele conta que a situação está “cada vez mais difícil pra sobreviver enfrentando carestia e desemprego”. “Aqui ninguém quer dar emprego a cigano, a gente bota os filhos na escola, mas tem muito preconceito contra nós”, reclama. Aos 74 anos, Lindalva guarda poucos traços da bela e exuberante cigana que lia a mão das pessoas pelas ruas de Macau. Desde que o marido morreu entrou em depressão e ficou com sérios problemas de saúde. A pequena pensão mal dá para comprar os medicamentos.

HISTORIADORA BUSCA APOIO PARA RESGATAR A CULTURA CIGANA

Carla Lemos foi à Câmara Municipal pedir apoio para a causa cigana



Acompanhada por um grupo de ciganos, a historiadora Carla Alberta Gonzalez Lemos, pesquisadora da causa,  recentemente ocupou a tribuna popular da Câmara Municipal para denunciar o abandono e pedir solução. Ela lembrou que cigano também tem título de eleitor e merece respeito. “Existe hoje no Rio Grande do Norte mais de cinco mil ciganos, espalhados por todas as regiões, vivendo na margem do sistema econômico e sofrendo ainda o preconceito social. Em Macau, depois do Dr. Zé Antonio, nada mais foi feito, os ciganos convivem com os porcos”, enfatizou. Segundo Carla, a falta de política pública direcionada às etnias e o desconhecimento da sociedade pelas culturas tradicionais provoca muito sofrimento.  Sugeriu que seja aprovado projeto de lei criando a Semana da Cultura Cigana para “dar oportunidade de debater a questão com a sociedade, revitalizando sua historiografia tradicional”. Também pediu a destinação de um “território genuinamente cigano” onde se poderia estimular a prática das tradições que estão se perdendo no tempo.  

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