CIGANOS: contando com a própria SORTE
Fugindo da seca, grupo cigano escolheu Macau para viver pacificamente |
Em meados dos anos noventa, fugindo da seca e das rixas de
família, um bando de ciganos trocou a vida nômade dos acampamentos por moradia
fixa em Macau. Chegaram numa carroça trazendo pouca bagagem dispostos a começar
vida nova e pacífica. Inicialmente, ariscos e desconfiados, despertaram certa
inquietação na população, mas logo se integraram à vida da comunidade e se
distanciaram das tradições ciganas. Duas décadas depois, a família cresceu e se
multiplicou, mudou os hábitos, conquistou casa própria, mas reclama da
discriminação, da falta de apoio e de políticas públicas para sua gente.
Ao longo dos anos o grupo de dez famílias sobrevive com
grandes dificuldades, enfrentando preconceito, doenças e desemprego. Alguns ciganos
mais velhos recebem aposentadorias rurais e os mais jovens fazem biscates,
vendem relógios, rádios e outros artigos importados para manterem as famílias.
Nas feiras, poucas ciganas ainda oferecem a previsão do futuro através da velha
leitura de mão. No ano 2000, na
administração do ex-prefeito José Antonio Menezes, eles ganharam uma casa
própria doada pelo governo municipal. Desde então, o Conjunto Arnóbio Abreu,
localizado no Porto São Pedro, ficou esquecido pelo poder público.
No ‘bairro dos ciganos,’ onde o vento faz a curva nas
proximidades da antiga estação ferroviária, o saneamento básico ainda não
chegou e os animais circulam livremente pelas ruas sem pavimentação. As casas
ficaram pequenas para abrigar o grupo que se multiplicou. Sebastião Dantas, 54
anos, já foi o líder do bando, mas anda cansado e doente. Sem rodeios,
ele
conta que a situação está “cada vez mais difícil pra sobreviver enfrentando
carestia e desemprego”. “Aqui ninguém quer dar emprego a cigano, a gente bota
os filhos na escola, mas tem muito preconceito contra nós”, reclama. Aos 74
anos, Lindalva guarda poucos traços da bela e exuberante cigana que lia a mão
das pessoas pelas ruas de Macau. Desde que o marido morreu entrou em depressão
e ficou com sérios problemas de saúde. A pequena pensão mal dá para comprar os
medicamentos.
HISTORIADORA BUSCA APOIO PARA RESGATAR A CULTURA CIGANA
Carla Lemos foi à Câmara Municipal pedir apoio para a causa cigana |
Acompanhada por um grupo de ciganos, a historiadora Carla
Alberta Gonzalez Lemos, pesquisadora da causa,
recentemente ocupou a tribuna popular da Câmara Municipal para denunciar
o abandono e pedir solução. Ela lembrou que cigano também tem título de eleitor
e merece respeito. “Existe hoje no Rio Grande do Norte mais de cinco mil
ciganos, espalhados por todas as regiões, vivendo na margem do sistema
econômico e sofrendo ainda o preconceito social. Em Macau, depois do Dr. Zé
Antonio, nada mais foi feito, os ciganos convivem com os porcos”, enfatizou. Segundo
Carla, a falta de política pública direcionada às etnias e o desconhecimento da
sociedade pelas culturas tradicionais provoca muito sofrimento. Sugeriu que seja aprovado projeto de lei
criando a Semana da Cultura Cigana para “dar oportunidade de debater a questão
com a sociedade, revitalizando sua historiografia tradicional”. Também pediu a
destinação de um “território genuinamente cigano” onde se poderia estimular a prática
das tradições que estão se perdendo no tempo.
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