segunda-feira, 2 de abril de 2012

ORA PRO NOBIS




É semana santa. O ocaso.
Pardais estão de volta aos ninhos.
Barulhentos. Felizes?

E eu, onde está meu ninho? Aqui?
Fantasmas antigos se arrastam na memória.
Revejo o cerimonial , 
a igreja ardente. 

Cheiro de velas. Incenso. Ruído de matracas.
Imagens de santos centenárias cobertas de púrpura.
O Senhor-Morto.

Meu pai busca o surrado terno esverdeado 
cheirando a guardado
e segue solene em direção à Matriz.

Recebe o hábito azul da Irmandade da Conceição,
segura um dos longos castiçais de prata.
Vejo-o suando entre os demais.

“Eli, Eli, Lama Sabactani”, repetia o celebrante.
O beijo interminável na Cruz.
“Meu povo que te fiz eu, em que de contristei?”, cantava o coral.

Eu também estava ali. Convicta.
Para onde caminha a fé?

Meu velho pai partiu há vinte anos,
a irmandade se renova.
A minha fé, quando?


Quero de volta o meu ninho
e a segurança do Santuário Sagrado!

Ave-Marias rezadas à luz de vela no quarto dos fundos.

Quero a voz da minha mãe, cansada e rouca,
 a repetir “rogai por nós que recorremos a vós”!
Quero o presépio. O Sagrado Coração de Jesus. O Terço.

Quero de volta a infância perdida no tempo,
vizinhos amigos, algazarra, irmãos em volta, a paz.

Quero de volta a Inocência e o Perdão.

2 comentários:

benise disse...

Que lindo!

Anônimo disse...

Parabéns pelas palavras que descreveram as fotos, senti está na Matriz literalmente, as velas, o incenso, o orgão, lembrei os domingos na matriz na minha querida Macau de outras horas.