É semana santa. O ocaso.
Pardais estão de volta aos ninhos.
Barulhentos. Felizes?
E eu, onde está meu ninho? Aqui?
Fantasmas antigos se arrastam na memória.
Revejo o cerimonial ,
a igreja ardente.
Cheiro de velas. Incenso. Ruído de matracas.
Imagens de santos centenárias cobertas de púrpura.
O Senhor-Morto.
Meu pai busca o surrado terno esverdeado
cheirando a guardado
e segue solene em direção à Matriz.
Recebe o hábito azul da Irmandade da Conceição,
segura um dos longos castiçais de prata.
Vejo-o suando entre os demais.
“Eli, Eli, Lama Sabactani”, repetia o celebrante.
O beijo interminável na Cruz.
“Meu povo que te fiz eu, em que de contristei?”, cantava o coral.
Eu também estava ali. Convicta.
Para onde caminha a fé?
Meu velho pai partiu há vinte anos,
a irmandade se renova.
A minha fé, quando?
Quero de volta o meu ninho
e a segurança do Santuário Sagrado!
Ave-Marias rezadas à luz de vela no quarto dos fundos.
Quero a voz da minha mãe, cansada e rouca,
a repetir “rogai por nós que recorremos a vós”!
Quero o presépio. O Sagrado Coração de Jesus. O Terço.
Quero de volta a infância perdida no tempo,
vizinhos amigos, algazarra, irmãos em volta, a paz.
Quero de volta a Inocência e o Perdão.
2 comentários:
Que lindo!
Parabéns pelas palavras que descreveram as fotos, senti está na Matriz literalmente, as velas, o incenso, o orgão, lembrei os domingos na matriz na minha querida Macau de outras horas.
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